Semana de 10 a 16 de março de 2017
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Continuamos a viver sob o impacto das ações
da Lava-Jato. Os acontecimentos políticos dominaram os noticiários da semana
com o destaque para a lista do ministro Fachim do Supremo Tribunal Federal
(STF). E não só a lista. Pior foi a divulgação dos depoimentos e vídeos pelas
TVs e jornais. É espantoso o cinismo das negociações e a compra de leis,
decretos, MPs, etc.
Para o governo a situação é desesperadora.
Ninguém é capaz de estimar o índice de aprovação do Presidente Temer que já
havia caído para 10%. Nestas circunstâncias é compreensível a pressa do governo
em fazer andar as suas reformas a todo custo. É a única coisa que lhe resta
para continuar com o frágil apoio do setor empresarial. A sua base de suporte
no congresso está em frangalhos. As ratazanas, ocupadas em defender a própria
pele, escapam por todos os lados. O preço da fidelidade subiu e Temer não tem mais
nenhuma vergonha em usar as armas que dispõe: a caneta, o dinheiro, o poder, a
chantagem, as nomeações, etc. Chega mesmo a nomear envolvidos na Lava-Jato como
a de Luiz Otávio Campos (PMDB) indicado para a secretaria nacional dos Portos.
E as notícias econômicas não são boas. O
ministro Meirelles já se desculpa dizendo que a recessão está afetando as
receitas. O governo, apesar de sua pregação de austeridade fiscal, decidiu
afrouxar o ajuste das contas públicas no próximo ano propondo uma elevação do déficit
público, para 2018, de R$50 bilhões. Assim, os R$79 bilhões de rombo previsto
na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) enviada ao Congresso, foram corrigidos
para R$129 bilhões.
Para alívio geral, a reunião do Conselho de
Política Monetária (COPOM) do Banco Central (BC), na quarta-feira da semana
passada resolveu baixar a Selic, taxa de juros de referência, em 1%. Esta taxa
passou agora a 11,25% ao ano, ainda a maior do mundo. O BC reconhece que a
inflação continua sob controle e a taxa de inflação tende para o centro da meta
que é 4,5%.
No agronegócio o país comemora o anúncio de
uma safra recorde de grãos (soja, milho, arroz), mas o setor minerador chora a
queda dos preços do minério de ferro, em 8,5%, o pior valor em cinco meses. A
Fiesp também chora por causa das restrições ao crédito pelo BNDES e a elevação
das taxas de juros. O BC resolveu acabar com a Taxa de Juros de Longo Prazo
(TJLP) que era subsidiada.
O setor produtivo comemora o aumento de
5,23% nas vendas de papelão, no primeiro trimestre, enquanto o SPC Brasil e a
CHDL lamentam os altos níveis da inadimplência que afeta 59,2 milhões de
brasileiros, ou seja, 39,36% da população adulta entre 18 e 95 anos.
Para complicar ainda mais a vida dos
analistas de conjuntura o IBGE decidiu refazer os cálculos das vendas do varejo
restrito (sem automóveis e materiais de construção). Para o mês de janeiro, o
cálculo de queda de 0,7% passou para crescimento de 5,5%. Os analistas não
encontram nenhuma coerência entre este novo número e os outros dados da
economia. Há rumores de que o IBGE contrariando sua tradição de seriedade anda
manipulando os dados por ordem do governo.
Se a situação econômica é confusa a
situação política é caótica. Há nove ministros do governo apontados na lista de
Fachin e Temer nada pode fazer para não perder os votos dos partidos que eles
representam. Além deles 29 senadores, 42 deputados federais, três governadores
e dezenas de outros políticos entre os quais ex-ministros do governo Dilma e a
própria ex-presidente bem como o também ex-presidente Lula são relacionados.
Quase todos os pré-candidatos à presidência em 2018 foram igualmente incluídos
nas delações. O próprio presidente Temer, que não pode ser processado por
crimes anteriores ao seu mandato enquanto nele estiver, tem dois processos à
espera.
O presidente, fingindo manter a calma,
declara “o governo não pode parar”. Conclamando todos os seus defensores para o
combate, afirma que “O executivo executa, o legislativo legisla e o judiciário
julga”. Ele esquece que o legislativo legisla em nome dos financiadores de suas
campanhas aprovando leis pagas a peso de ouro pelos empresários que os
compraram. Um executivo sem legitimidade (10% de apoio) e formado por suspeitos
de corrupção é o encarregado da execução e gestão dos negócios do país. Com
muito boa vontade ainda escapa o Judiciário que é formado por um corpo de
juristas profissionais e trabalha balizado por leis ainda não totalmente
violentadas.
É por isso que o governo não pode parar. É
preciso aproveitar esta conjugação de políticos corruptos e demais fatores
favoráveis para destruir tudo o que foi conquistado pelos trabalhadores com
tantos sacrifícios durante tantos anos.
E eles têm pressa pois podem ser corridos
pelo povo enfurecido.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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